Testemunhos e Práticas
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A qualidade em educação
Reflexões sobre a qualidade em educação
O que é a qualidade em educação para Educadores e alunos?
Veja alguns testemunhos, recolhidos pela equipa de Avaliação Externa do programa Escolas2030 em entrevistas e grupos focais.
Realizados em 2022-23, as entrevistas e os grupos focais incluíram diretores dos Agrupamentos de Escolas (AE) e/ou representantes da direção, educadores e professores, e alunos (4º e 9º anos de escolaridade), dos AE participantes no programa.
Consulte os documentos em anexo para mais informação.
Perspetivas dos responsáveis dos AE e dos professores e educadores
O que define a qualidade em educação, a qualidade dos ambientes educativos e das aprendizagens?
O que pode mudar para melhorar essa qualidade?
O que pode mudar para melhorar essa qualidade?
“A escola é feita para os alunos, ou foi pensada para eles, mas eles não são ouvidos. (…) quando os alunos começam a ter opinião, ou deveriam ter opinião, não lhes é perguntada. Ou seja, a escola falha porque não lhes pergunta. Mas também quando lhes pergunta, não quer saber bem a opinião deles, porque ter alunos e uma cooperação crítica não é fácil.”
Professor, coordenador 1º ciclo
“Nós temos vindo a tentar que a sala deixe de ser aquele canto de sala de aula tradicional, onde o professor supostamente detém todo o conhecimento e os alunos absorvem tudo o que o professor diz.”
Diretor AE
“Eu, para além das relações humanas (…), parece-me que a autonomia das escolas, no meu ponto de vista, favorece esses ambientes de qualidade.
Educadora, pré-escolar”
Educadora, pré-escolar
“Para mim, a qualidade está em sentirmo-nos bem. (…)”
Professora, 1º ciclo
“Esta questão de o ensino estar muito centrado no que o professor dá e os alunos recebem, acho que é a grande dificuldade. (…) Acho que fazer participar os alunos na aprendizagem é fundamental.”
Educadora, pré-escolar
“Se calhar, é primordial as escolas voltarem à natureza.”
Educadora, pré-escolar
“[1] Eu acho que a parte das famílias também é muito importante. Que haja aqui uma boa ligação e um trabalho colaborativo. (…)
[2] Acho que também é importante o trabalho colaborativo entre os docentes, que muitas vezes não acontece.”
[1] Professora, 1º ciclo
[2] Professora, 3º ciclo
“Depois, a educação de qualidade é muita coisa. Para mim, é uma abordagem integrada e contínua do percurso de cada um dos alunos, garantindo que ele aprenda ao seu ritmo e à sua medida, que possa desenvolver as suas capacidades no seu limite, na sua dimensão. Nem todos somos iguais (…), apostando na diversidade de estratégias (…).”
Professora, 3º ciclo
“Não podemos olhar apenas para o exame nacional, e muito menos para o ranking. Isso tem de sair de cima das costas dos professores. (…) Porque fazer um exame nacional ou uma prova final de ciclo igual para todos, e nós termos a pretensão de (…) prepararmos todos os alunos da mesma forma no mesmo nível, é algo que está em cima dos professores. É uma gestão muito difícil e que condiciona por vezes o nosso trabalho. (…) os rankings servem para quê?”
Professora, ensino secundário
Perspetivas dos alunos
Que atividades mais gostam de fazer na escola? O que mais recordam?
“Uma atividade… foi quando veio uma investigadora florestal e depois nós estávamos a falar sobre as árvores e nós fomos lá para fora ver as árvores que haviam na nossa escola, foi muito divertido, e eu aprendi também que existem árvores invasoras, árvores que ocupam mais espaço (…).”
Aluna, 4º ano
“Nas [aulas] práticas estamos mais envolvidos. (…) – (…) aulas de laboratório em que fazemos experiências (…), ajuda bastante na compreensão da matéria. (…) Por exemplo, nós agora a última que fizemos… estivemos a ver um coração de um porco. (…) pelo menos para mim ajudou-me muito melhor a compreender os sítios do coração e todas essas coisas…”
Alunos, 9º ano
“Nós temos uma coisa, à segunda e à quarta-feira, que se chama “Gostar”, que são muitos temas, há arte, há música, há dança, há teatro (…). E eu gosto muito de uma coisa que é uns projetos (…) e o fixe disso é que nós estávamos com outras turmas, nós ajudávamo-nos uns aos outros (…). Eu gosto muito porque dá para interagir com turmas de anos diferentes e acho que podemos aprender todos em conjunto.”
Aluna, 4º ano
“(…) o professor, no caso de Inglês, (…) houve uma matéria qualquer que falava sobre a adolescência, e nós tivemos um debate sobre as emoções que cada um sentia (…). – E essas coisas de falarmos sobre emoções ajudam a também conhecermos melhor com quem estamos. (…) – Essas aulas (…), podemos participar, podemos dar a nossa opinião…”
Aluna, 9º ano
“Houve um trabalho que nós fizemos (…) que também me ajudou, que (…) nós tínhamos de dar um elogio a cada pessoa. (…) há certos colegas que passam mais despercebidos por nós e nós nunca parámos para pensar nas qualidades que eles têm também.”
Aluna, 9º ano
“Eu gosto de várias atividades que nós temos lá (…). Depois quando acabam as aulas ou na hora do almoço (…) vamos brincar para um sítio cheio de árvores, com terra…”
Aluna, 4º ano
O que define um bom professor? Que características mais valorizam?
“- [O melhor professor foi] um professor de Geografia. Lá está, era a maneira como davam a matéria. As aulas não eram aquelas aulas que estávamos todos distraídos, porque o professor mudava muito a maneira de dar a matéria.
– Era interessante. (…) não têm problemas em falar de uma coisa que não seja estritamente da aula, mas que tenha a ver com a matéria. (…) relacionavam coisas que aconteciam na vida real. E isso ajudava.”
Alunos, 9º ano
“- É isso que nos faz todos interligar, partilharmos as nossas opiniões tanto com o professor, ter alguma… lá está, não é estar só a recolher informação, é trocar, é partilhar pensamentos (…).
– Eu noto uma coisa. Normalmente, nas outras aulas, quando um professor pede para ler, há um, dois que se voluntariam, e na aula de História às vezes há cinco, seis pessoas que querem ler…”
Alunos, 9º ano
“Claro que o trabalho [do professor] é ensinar, é educar as crianças, mas importa imenso a parte da relação que cria. Como estava a dizer, a parte para mim que é mais importante na escola é a relação que temos com os professores. (…) confio mais na opinião de alguém que eu goste e que tenho uma melhor relação do que em alguém que eu sinto que tenho uma relação fria e que não estou tão aproximada. (…) quando o professor entra com má energia, com mau humor, isso pega-se, isso alastra.”
Aluna, 9º ano
“(…) Empatia pelo aluno…. Por exemplo, a stora preocupa-se… não se nota, mas ela preocupa-se muito connosco. (…) Eu acho que nós damo-nos muito bem com essa professora pelo facto de ela se preocupar connosco, de ela transmitir respeito e confiança em nós. E estar sempre a dizer que nós somos bons, somos fantásticos, tipo… elogiar-nos em vez de estar-nos sempre a meter para baixo e a meter-nos pressão, por exemplo, pressão com os exames. (…) ela é mais, tipo, tranquila, fala connosco e faz piadas connosco. Eu acho que isso é importante.”
Alunos, 9º ano
“A professora tem uma coisa que eu admiro muito que poucos professores fazem. Porque normalmente os professores mandam sempre e-mail para os pais quando o aluno faz alguma coisa má, digamos. Esta professora, ela (…) manda e-mail aos pais também a elogiar os alunos. E isso é uma coisa boa para os alunos e para os pais.”
Alunos, 9º ano
Que problemas/dificuldades sentem na escola?
“- Há uma coisa que eu não gosto nada na minha turma, é que é muito agressiva, se alguém faz uma crítica à pessoa, ou a uma pessoa muito amiga da pessoa (…) começam todos à pancada… (…)
– O que eu mudaria é que… que a escola ficasse em paz, que não houvesse brigas, que ninguém se chateasse, isso mudava totalmente a escola…”
Alunos, 4º ano
“Se há coisa que sentimos grande diferença foi o carinho que tínhamos de um professor de uma escola da primária, em que era um professor para todas as coisas, para uma escola já de 5º, 6º… Sentia que tinha o carinho todo de um professor e depois estávamos mais… dispersos…
– (…) Acho que o 5º ano foi um ano complicado para todos.”
Alunos, 9º ano
“- O meu maior problema é a concentração… Distraio-me facilmente, por exemplo. Isso não ajuda muito, não é?!
– A cabeça está em muitos sítios.
– Sim, temos muita coisa na cabeça. O humor muda de um segundo para o outro.”
Alunos, 9º ano
“- Um ritmo mais calmo às vezes ajuda, uma aula mais descontraída de vez em quando também… (…)
– Em Português (…) já mudámos de professor duas vezes… e toda a matéria que estamos a dar agora tem sido sempre naquele ritmo muito acelerado, os testes são todos seguidos, não temos tempo para estudar porque damos a matéria hoje, daqui a cinco dias já é o teste. (…) temos os testes todos muito seguidos, numa semana às vezes… (…)
– A ansiedade que nós sentimos às vezes durante os testes, durante as aulas…”
Alunos, 9º ano
“Há crianças que aprendem uma coisa… (…) numa aula. Mas há crianças que precisam de duas aulas. (…) se não também fica stressada ao saber que tem de aprender isto hoje, mas amanhã já não percebe e já estão a passar à frente, sente-se um bocado perdida.”
Aluna, 9º ano
“E mais uma delas é a pressão (…). Como vamos aumentando o grau de dificuldade… (…) temos de começar a estudar, temos mais preocupações, então… acho que é um bocado a pressão. Temos de ter boas notas porque é o nosso futuro que está em jogo…”
Aluna, 9º ano
“Mesmo cercada de pessoas eu me sinto um pouco fora do lugar, também por não estar no meu país, então a gente se sente um pouco mais deslocado. E eu acho que isso é uma coisa que eu realmente não gosto muito na escola porque às vezes a escola me faz sentir mal… alguns colegas e às vezes até alguns professores. E me fazem querer voltar para um país para onde eu não posso mais voltar.”
Aluna, 9º ano
Como é a participação em aula? Como se manifestam as (des)igualdades no espaço escolar?
“Há alguma exceção de alguns colegas que não participam tanto (…), que têm medo de errar, e como têm também mais dificuldades e têm apoio, têm medo… porque têm mais dificuldades e têm medo que gozem com eles…”
Aluna, 4º ano
“- Há professores que nos dá mais confiança para meter perguntas e tirar dúvidas (…).
– (…) Há professores que dizem: “Ah, não te vou responder a isso, devias saber essa matéria já, vai estudar (…)”, ou explicam-nos quatro vezes da mesma exata maneira.”
Alunas, 9º ano
“Agora na sexta vamos ter um concurso de soletração. E a professora escolheu as pessoas que eram melhores, mais rápidas (…). A Carolina que está ao meu lado, ela queria participar, só que ela tem dificuldade em escrever, então demora mais.”
Aluna, 4º ano
“- Eu não sou muito de falar sobre os meus sentimentos. (…) Não é muito confortável falar. (…) Acho que também existe um certo estigma, sobre rapazes (…). Têm de ser duros e não mostrar sentimentos…”
Alunos, 4º ano
“E uma coisa que eu acho muito boa na minha escola, é que nós, toda a escola, acolhemos pessoas de diferentes países (…) e temos três meninos com algumas diferenças (…).”
Aluna, 4º ano
O que mudariam na escola?
“Eu acho que [mudaria] a forma como dão as aulas. Não é sentarmo-nos todos numa cadeira, o professor começar a falar, a depositar e nós estarmos quase a derreter lá sentados. (…)
– Ao fim de dois tempos de aulas, às vezes já nem estamos a ouvir nada.
– Damos por nós a olhar para a parede. «Ui, já perdi tudo.»
– É um pouco atirar matéria e nós apanhamos o que conseguimos.”
Alunos, 9º ano
“Eu acho que as professoras prendem-se muito àquilo que está no livro (…). Dizem tudo, mas depois explicam de uma forma muito confusa, e até, às vezes, da maneira que está no manual. (…) Eu acho que devíamos fazer algumas atividades (…). Nós às vezes estamos a brincar, mas estamos a aprender… uma coisa que nos chama a atenção, mas que também consegue transmitir aprendizagem.”
Aluno, 9º ano
“Também às vezes fazemos apresentações e trabalhos assim diferentes, alguns professores até nos pedem a nós opiniões de trabalhos que podemos fazer, sejam apresentações, sejam… (…) Agora também estamos numa era em que estamos a usar mais tecnologias, jogos, criar aplicações que tenham a ver com a matéria. Também nos questionam sobre isso.”
Aluna, 9º ano
“Se eu pudesse eu mudaria a maneira como alguns professores nos avaliam. (…) tenho professores que só olham para as folhas do teste (…). (…) um teste é uma avaliação, mas é uma coisa que é feita sob pressão num dia… (…) não acho que deva ser só por esse resultado dessa ficha que devam avaliar-nos completamente. (…)
– (…) um teste que não transmite essencialmente a minha aprendizagem. (…) a minha professora de Inglês (…) avalia mais a nossa postura na sala de aula e a nossa participação, os trabalhos que fazemos em casa, (…), os trabalhos que fazemos na aula. Acho que variar entre um e outro era mais benéfico para o aluno.”
Alunos, 9º ano
“- Eu acho que hoje em dia as coisas estão a ficar cada vez mais tecnológicas. Podia haver uma renovação de, por exemplo, computadores. (…) a internet também. (…) Ainda no outro dia um professor demorou 20 minutos a ligar o computador e que tudo estivesse pronto para começar a dar a aula. Isso também…
– Desmotiva um pouco.”
Alunos, 9º ano
“- Eu acho que nas escolas devia ser obrigatório terem um animador (…) mesmo que não tenham um bairro (…) com problemas. (…) tu podes sempre falar com ela como se fosse uma psicóloga. Ela ajuda, ela ouve, ela responde, ela…
– Dá conselhos.”